11.5.08

Cobra

De manhã, bem cedo, uma das minhas tarefas consiste em abrir umas quantas portadas para que o sol entre. Todas em madeira, perras na sua maioria, tenho que as abrir por fora.
Depois de alguns puxões, finalmente abre-se a primeira. Estendida junto à base da janela, no espaço deixado livre entre esta e a portada, está uma cobra; uns 40 cm de comprimento, muito escura, olho brilhante que parece mirar-me; o corpo revela alguma tensão - ou será tudo imaginação minha? À memória vêm as histórias e as imagens de filmes de cobras-capelo a prepararem o bote. Ou ainda as firmes recomendações da minha mãe, quando garota, em Moçambique; eram sempre questões de sobrevivência: as cobras, as aranhas portentosas, as centopeias (chegavam a ter 20 cm) que matavam um animal pequeno...
Depois do susto e nojo iniciais mais o guincho histérico que ecoou pelo vale, empurro o resto da portada contra a parede e fico parada a observar, talvez a tentar perceber o que se vai passar em seguida. A cor faz-me lembrar a cobra negríssima de uns 2 metros de comprimento que um dos trabalhadores, o Igor, retirou do telhado há um ano atrás. Mas esta é uma "júnior", tem a grossura de um dedo.
Finalmente avançou ao longo do parapeito, escorregou parede abaixo e enfiou-se num pequeno tufo de ervas.

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