11.10.07

Tres-Malhada

A Malhada, uma das minhas gatas, não dormiu em casa. Gosto que os animais estejam dentro de casa, seguros, quando me vou deitar.
Adoptei a postura cool, ela estaria a passear pelos campos da aldeia, a espreitar os ratos e outros bichos. Passados dez minutos ouço a portada da varanda a mexer, acendo a luz esperançada; era o vento. Apago a luz; pareceu-me ouvir miar, acendo a luz; não, afinal era um cão, longe. Apago novamente a luz. Os vizinhos vão pensar que estou a fazer código morse.
O Pingo aparece à porta da varanda. Levanto-me ao mesmo tempo que acendo o candeeiro, abro-lhe a porta e entra apressado para debaixo da cama; deito-me; suspeito da animação em que está e espreito: um pequeno rato, já morto. Levanto-me, vou à cozinha buscar a pá do lixo e a vassoura e recolho o pequeno animal: é mínimo, magro; digo: "Pingo feio, coitadinho do ratinho!" e vou à cozinha pousar a pá no chão; penso que corro o risco de o gato o ir buscar novamente, mas não me apetece nada ir à rua, deitar o bicho no quintal (não gosto de deitar estes animaizitos no lixo, parece-me um desrespeito para com a natureza...).
De manhã, bem cedo, acordo: nem sinal da Malhada. Começo a sentir uma pequena angústia; e se foi atropelada? e se foi apanhada por um cão? e se sente doente? Vou à varanda a chamo: nada!
Vou acendendo as luzes e abrindo portas. Chego à cozinha e a pá do lixo está vazia; claro, o Pingo já comeu o rato... Distribuo comida pela cadela e pelos gatos, ligo a máquina do café, vou à rua, junto ao portão chamar pela tres-Malhada; insisto, dou um salto para a rua, ainda de pijama e chinelos. Finalmente vejo-a; vem a correr, feliz, rua acima. Deixa cair alguma coisa (um rato, claro), volta a apanhá-lo e corre na minha direcção. O ratito que traz, não sendo muito grande, é gordíssimo; sinto pena dele. A gata está com a barriga redonda, deve ter passado a noite a comer. Não a deixo entrar em casa com o rato e fecho-lhe portas e janelas, enquanto vou tomar banho. Finalmente deixo-a entrar, já deve ter comido o bicho ou largou-o em qualquer lado. Vem contente, com saudades da dona.
Salta para a cama, já feita, e aninha-se, enrolada. Tenho a certeza de que sorri. São oito da manhã, horas de ir trabalhar.

Sem comentários: