13.5.08

Parabéns Névoa!

A minha cadela completou 9 anos em 12 de Maio.
A grande prenda dela - sem que o saiba - foi ter espirrado um objecto plástico que há mais de um ano lhe provocava repetidas infecções respiratórias.
Quando cheguei a casa fiz-lhe muitas festas e disse-lhe "Parabéns, parabéns minha querida!" Claro que não entendeu o texto, basta-lhe receber festas e "ler" o tom de voz.
Quando garota, em Moçambique, os meus pais tiveram um cão chamado Piloto. Lembro-me que era grande, amarelo, com cauda comprida e felpuda. Não tenho fotografias e não me lembro do focinho. Lembro-me, isso sim, que o Piloto fazia anos no dia 10 de Junho - o dia de Camões - e que tinha direito a bolo, que a minha mãe fazia e que ele também comia.

11.5.08

Leite de soja

Acabei de beber uma caneca de leite de soja. Feito em casa.
Não custa nada, em termos de tempo e menos ainda se considerarmos o custo /L. Basta ter o feijão de soja, já demolhado, juntar água, ligar a máquina e aguardar que apite!
Cerca de 12 minutos até ficar pronto.
Uso o leite de soja para beber, para juntar aos cereais de pequeno-almoço, para cozinhar, faço inclusivamente o tofu em casa.
Para quem estiver interessado, sou também representante da marca em Coimbra.
Dormi umas doze horas.
Acordei com as mãos inchadas e a doer - exagerei no trabalho, ontem. Aliás, todo o corpo me dói mas é uma "dor" que diz que o corpo está vivo e a mente desperta.
A Pinta passou a noite na rua e regressou a meio da manhã, cheia de arranhões na cabeça e um olho semi-fechado; não se passa nada de sério, está a fazer-se de coitadinha para a dona reparar nela.
A Névoa, sempre com o nariz ranhoso, anda colada a mim. Espirra; vou buscar papel higiénico para lhe limpar o nariz (o que os donos fazem pelos seus animais...) e encontro no chão um pedaço de plático preto, semi-rígido, de uns dois centímetros x meio centímetro; estou certa de que lhe saiu do nariz, mostro-o ao veterinário na próxima consulta. Espero que desta vez a infecção passe.
Não consigo ligar a roçadora - bem puxo pelo cordão, mas não funciona.

Cobra III

Pedi uma roçadora... não, não é isso... uma roçadora é um equipamento para cortar ervas, silvas, arbustos pequenos, etc. É um instrumento temível; projecta pedras ou outros objectos com tal velocidade que pode lacerar músculo e até mesmo provocar fracturas.
Por isso os profissionais usam fatos encerados, botas, luvas, capacetes para protecção. Os não-profissionais improvisam...
Eu tenho botas, luvas, capacete; as luvas estão velhas e são finas, têm que ser substituídas.
Trouxeram-me ontem a máquina, deram-me uma explicação sobre como ligar, desligar, montar no "arreio" (umas alças que se vestem como um colete - parecidíssimo com o cinto de segurança que ponho na minha cadela para andar de carro); funciona a "gasolina" - uma mistura que se compra na bomba.
Esta traz uma cabeça com um conjunto de palhetas plásticas, que fazem lembrar uma lula.
Experimentei a máquina; o barulho e o cheiro lembram um motociclo.
O meu vizinho foi simpático e limpou o terreno das traseiras da casa, enquanto eu ia arrastando e queimando as sebes que consegui cortar de manhã.
A certa altura, passada uma hora em quase total silêncio, olhou para mim com uma expressão de surpresa, riu-se e disse-me: "Uma cobra". Fiz a mesma expressão, arregalando os olhos. Disse-lhe rapidamente "não a mate... é grande?". Com as mãos indica o tamanho - uns 50 cm. Tinha-a morto com a máquina.

Cobra - the remake

Continuei com o desbravar da sebe.
Encontrei uma cobra, quietinha, verde e laranja, pareceu-me. Não se moveu, percebi apenas um ligeiro estremecer enquanto olhava para ela; só tinha uma "curva" à mostra, o restante corpo estava enfiado debaixo de ramos rentes ao muro e montes de detritos. Respinguei-a com água, não se mexeu; dei uns toques nos ramos, não se mexeu. Resolvi mudar de tarefa, noutro local. A curiosidade levou-me a voltar à mesma sebe várias vezes ao longo do dia; já se mexeu e tem a cabeça de fora, uns olhos redondos e pretos; está quietinha; observo-a a menos de um metro de distância; penso que pode estar doente. Entretanto já parece ter outra cor, está mais castanha, às malhas - será que foi por causa do sol ou a barrinha teria outra cor?
No dia seguinte continua no mesmo sítio. Conto a história a uma pessoa amiga que se ri e diz estar a imaginar-me a levar a cobra ao veterinário - não é totalmente descabido.
Dois dias depois desapareceu. Talvez estivesse ainda a hibernar quando a encontrei.
O difícil de não conhecer uma tarefa é... tudo! não se sabe qual a ferramenta adequada, como se pega, se com o cabo para cima ou para baixo, para a esquerda ou para a direita; não se sabe qual a força indicada para golpear com a foice; repetem-se movimentos desnecessariamente; não se conhece o encadeamento lógico das tarefas... enfim! é um sem-número de dúvidas.
A enorme vantagem é que o trabalho vai sendo feito e a cabeça está livre de parvoíces existenciais.

Por uma qualquer inspiração - divina, diria eu - decidi sair do registo em que andava: não sou capaz, é muito trabalho, contratar mão-de-obra é caríssimo... e fui buscar as ferramentas agrícolas.

Comecei por limpar as heras que cobriam o muro de trás; ainda perdi tempo a cortar folhas, até decidir que o que tinha a fazer era eliminá-las; há que puxar, "descolar" raízes do muro e continuar a puxar. E quando necessário, usa-se a tesoura...

Comprei uma nova ferramenta, para cortar ramos, com cabos compridos para me proteger de espinhos e animaizinhos amantes de sebes... É óptima, ramos de 5-6 cm de diâmetro parecem manteiga... aproveito e vou trabalhando peitorais!
Encontro um primeiro "tesouro": uma pia antiga em pedra, redonda (imagino que servisse para alimentar animais) estava escondida por baixo de heras e de sebes cheias de espinhos. Plantei nela um chorão de flores rosa fúcsia, como quem espeta uma bandeira em terras recém-conquistadas. É modesto, sim, mas faz toda a diferença na minha auto-estima.

Cobra

De manhã, bem cedo, uma das minhas tarefas consiste em abrir umas quantas portadas para que o sol entre. Todas em madeira, perras na sua maioria, tenho que as abrir por fora.
Depois de alguns puxões, finalmente abre-se a primeira. Estendida junto à base da janela, no espaço deixado livre entre esta e a portada, está uma cobra; uns 40 cm de comprimento, muito escura, olho brilhante que parece mirar-me; o corpo revela alguma tensão - ou será tudo imaginação minha? À memória vêm as histórias e as imagens de filmes de cobras-capelo a prepararem o bote. Ou ainda as firmes recomendações da minha mãe, quando garota, em Moçambique; eram sempre questões de sobrevivência: as cobras, as aranhas portentosas, as centopeias (chegavam a ter 20 cm) que matavam um animal pequeno...
Depois do susto e nojo iniciais mais o guincho histérico que ecoou pelo vale, empurro o resto da portada contra a parede e fico parada a observar, talvez a tentar perceber o que se vai passar em seguida. A cor faz-me lembrar a cobra negríssima de uns 2 metros de comprimento que um dos trabalhadores, o Igor, retirou do telhado há um ano atrás. Mas esta é uma "júnior", tem a grossura de um dedo.
Finalmente avançou ao longo do parapeito, escorregou parede abaixo e enfiou-se num pequeno tufo de ervas.